O CENTRO DE ARQUEOLOGIA AMBIENTAL é um órgão do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo localizado em Piraju, Estado de São Paulo. Idealizado pela arqueóloga Luciana Pallestrini, suas raízes remontam os anos 1960, quando a equipe de arqueologia do Museu Paulista da Universidade de São Paulo iniciou suas atividades no trecho médiosuperior da bacia do rio Paranapanema. Naquela ocasião foram abertas algumas frentes de escavação arqueológica nos municípios de Itapeva, Piraju e Campina do Monte Alegre (então distrito do Município de Angatuba).
O que sinalizou e tornou realidade a implantação deste CENTRO foi a necessidade de se criar uma base operacional que apoiasse as atividades de campo e de laboratório executadas pela equipe de arqueologia na região do Paranapanema. No entanto, a melhor justificativa para tal empreendimento certamente foi o significativo potencial arqueológico da área; isto havia exigido, ainda em 1968, a organização daquele que é o mais antigo programa acadêmico de pesquisas arqueológicas do Estado de São Paulo, o PROJETO PARANAPANEMA. De fato, os vínculos entre o centro e o programa acadêmico têm sido inalienáveis e isto se explica por uma relação de permanente reciprocidade: o CENTRO REGIONAL é produto do PROJETO PARANAPANEMA e, na prática, a permanência de ambos tem sido garantida pelo mútuo envolvimento em objetivos convergentes.
SOBRE A ARQUEOLOGIA REGIONAL DO PARANAPANEMA
Em 1968, Luciana Pallestrini iniciou escavações no sítio arqueológico Fonseca, localizado no Município de Itapeva, Estado de São Paulo, sub-bacia do Paranapanema superior. Em 1969, atendendo ao chamado de outro achado fortuito, escavou o sítio Jango Luís, situado no então Distrito de Campininha, no Município de Angatuba, também na sub-bacia do Paranapanema superior. Ainda naquele ano, foi registrada nova solicitação: haviam desenterrado uma urna indígena em Piraju, já na sub-bacia média.
Tanta coincidência em termos de bacia hidrográfica motivou a invenção de um programa de pesquisas arqueológicas e a escolha do nome recaiu sobre o grande rio. Pallestrini criava, em 1969, o PROJETO PARANAPANEMA.
Já naquela época, atenta às necessidades de extroversão de suas investigações científicas, a então líder do Setor de Arqueologia do Museu Paulista realizava palestras e exposições nas escolas da cidade, lançando as bases para os novos interesses do CENTRO REGIONAL: a educação para o patrimônio arqueológico.
NASCE O CENTRO REGIONAL DA USP EM PIRAJU
Em 1972, quatro anos após o início das pesquisas do PROJETO PARANAPANEMA, entendimentos havidos entre o Museu Paulista e a Prefeitura de Piraju permitiram a criação de um centro de arqueologia. Mário Neme, então diretor do Museu Paulista, e Joaquim Otoni da Silveira Camargo, prefeito de Piraju, eram velhos conhecidos da época em que trabalharam no jornal O Estado de S.Paulo e isto facilitou sobremaneira o fechamento de um acordo de cooperação. Nascia, assim, o CENTRO REGIONAL DE PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS DE PIRAJÚ, extensão do Museu Paulista a funcionar como base de apoio operacional da arqueologia recém-inaugurada nas bandas do Paranapanema.
Em 1967, a Estrada de Ferro Sorocabana desativara o ramal ferroviário de Piraju e, em 1972, Quinzinho Camargo solicitou ao Estado que o prédio da Estação, então abandonado, fosse cedido à Prefeitura para acolher o CENTRO REGIONAL. A idéia não vingou e, embora houvesse contratempos relacionados com freqüentes mudanças de endereço, a Prefeitura de Piraju sempre garantiu a permanência do que era informalmente conhecido como o “Museu da USP” naquela cidade. Foi muito importante o apoio inicial da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
O CENTRO REGIONAL E O NOVO MAE
Em 1989, com a integração dos acervos arqueológicos e etnográficos da USP no Museu de Arqueologia e Etnologia, o controle do CENTRO REGIONAL passou para o novo MAE. Em 1995, quando estava na Prefeitura de Piraju como secretário de Planejamento e Meio Ambiente, José Luiz de Morais tomou conhecimento de que a USP era proprietária de um imóvel havido por herança vacante naquela cidade. Assim vislumbrou a possibilidade de pleiteá-lo para acolher o acervo e as atividades do CENTRO REGIONAL DE PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS MÁRIO NEME pois seria incabível que a municipalidade continuasse alojando, às suas expensas, as instalações do centro universitário da USP. Após tramitação que durou pouco mais de cinco anos, a administração superior da universidade definiu que o imóvel seria colocado à disposição do MAE, para lá se instalasse o seu CENTRO REGIONAL DE ARQUEOLOGIA.
Inaugurou-se, a partir dessa decisão, nova frente de trabalho. Entre o prazo legal para a desocupação do imóvel (que estava alugado), a disponibilidade dos Recursos necessários para as reformas e a edição de lei municipal prevendo a colaboração da municipalidade no processo, foram outros quatro anos. Os recursos necessários foram concedidos pela USP; a Prefeitura cedeu a mão-de-obra para a execução da reforma. O projeto de reforma e readaptação do imóvel é da arquiteta Daisy de Morais, da equipe do PROJETO PARANAPANAPEMA.
Em julhode 2004, o agora CENTRO REGIONAL DE ARQUEOLOGIA AMBIENTAL MARIO NEME passou a funcionar na CASA DA USP EM PIRAJU.
CONSOLIDANDO A NOVA ETAPA
Reinstalado na CASA DA USP, o CENTRO REGIONAL DE ARQUEOLOGIA AMBIENTAL inicia a mais recente etapa da sua existência pois, aos 36 anos, ainda há tarefas importantes a serem realizadas.
1 - Embora a reforma e adaptação do espaço tenha sido concluída, resta adquirir e instalar equipamentos que garantam o funcionamento de suas atividades que deverão abranger o ciclo completo da missão acadêmica: pesquisa, ensino e extensão universitária. Esta ordem tem a ver com a vocação do CENTRO REGIONAL: base de apoio operacional às pesquisas arqueológicas, apoio às disciplinas de graduação e pós-graduação, manutenção de mostra permanente da arqueologia regional de cunho didático-pedagógico, preleção de cursos de extra-curriculares com fulcro na arqueologia e áreas afins.
2 - A redistribuição do acervo arqueológico teve que enfrentar um espaço edificado mais exíguo, correspondente à antiga casa de moradia. Parte das coleções arqueológicas foi provisoriamente acondicionada em um dos antigos armazéns do complexo ferroviário tombado pelo município.
3 - Foram iniciados os estudos necessários para a concepção da mostra permanente de arqueologia regional, que deverá focalizar os cenários das ocupações humanas, da pré-história à consolidação do fenômeno urbano na bacia do Paranapanema paulista. Sem inviabilizar outros segmentos, o público-alvo é o conjunto de alunos do ensino fundamental.
4 - Como o lote de terreno é amplo (cerca de 1.200 m2), será possível construir reserva técnica para o acervo, laboratório, espaço para biblioteca e documentação, alojamento para pesquisadores e auditório. Portanto, assim que a fase de consolidação da mundança for concluída, serão encaminhados esforços no sentido de alocar os recursos necessários para a elaboração do projeto e a execução dessas obras.
UM ACERVO ESPETACULAR
O CENTRO REGIONAL DE ARQUEOLOGIA AMBIENTAL acolhe e mantém sob a sua guarda um acervo arqueológico que se destaca:
a] pela quantidade: são mais de 350 coleções correspondentes pela quantidade a cada registro arqueológico pesquisado pelo PROJETO PARANAPANEMA; o número de peças de cada uma varia entre poucas unidades (ocorrências arqueológicas pouquíssimo densas) e milhares. Nesta última categoria encontra-se a maior parte das coleções, como as do sítio Piracanjuba – Piraju (25 mil peças), do sítio Brito – Sarutaiá (25 mil peças), sítio Camargo – Piraju (10 mil peças), sítio Alvim – Pirapozinho (7 mil peças), sítio Fonseca – Itapeva (5 mil peças), dentre outros.
b] pela qualidade: todas as coleções resultam das pesquisas sistemáticas do PROJETO PARANAPENEMA; têm, portanto, alguns atributos essenciais: são georreferenciadas em várias escalas de aproximação (isto inclui a posição estratigráfica), muitas têm datação e, além disso, foram formadas segundo as diretrizes teóricas e conceituais dos projetos específicos que as geraram.
c] pela abrangência regional: o acervo cobre praticamente toda a extensão da bacia do rio Paranapanema no Estado de São, com coleções de municípios das sub-bacias superior, média e inferior.
d] pela abrangência temporal: o acervo cobre todos os cenários das ocupações humanas da bacias do Paranapanema e seus respectivos sistemas regionais de povoamento; portanto, há coleções pré-históricas de 7 mil, 5 mil ou 3 mil anos (macrossistema de caçadores-coletores indígenas), de 2 mil, mil ou 500 anos (macrossistema de agricultores indígenas), ou históricas (meados dos séculos 19 e 20).
e] pela natureza de materiais arqueológicos: praticamente todos os segmentos de coleções típicas de sítios arqueológicos indígenas do interior estão presentes nas proporções costumeiras (cerâmicas, líticos lascados, líticos polidos, ossos); ou de sítios históricos (telhas, tijolos, louças, vidros, metais). Destaca-se o elevado número de vasilhas de cerâmicas praticamente completas, como as grandes urnas.
SEGUNDA PARTE: GESTÃO ACADÊMICA
O projeto de gestão acadêmica do CENTRO REGIONAL DE ARQUEOLOGIA AMBIENTAL MÁRIO NEME é pautado nos princípios, missão, objetivos e estratégias definidos para o Museu de Arqueologia e Etnologia, consideradas as necessárias adaptações em termos de foco (convergência para a arqueologia regional), abrangência (municípios da bacia do rio Paranapanema) e perfil regional (compatibilidade com a vocação ambiental da região, centrada na valorização do meio físico-biótico e socioeconômico-cultural).
PRINCÍPIOS
a] Integração plena nas políticas institucionais do MAE e da Universidade de São Paulo.
b] Convergência temática para a arqueologia regional do Paranapanema, abrangendo as populações indígenas pré-coloniais e os ciclos regionais da sociedade nacional.
c] Priorização das salvaguardas e extroversão relacionadas com o acervo, pautadas no ciclo completo do processo curatorial, que inclui a educação para o patrimônio.
d] Gestão pela qualidade total, incluindo a adesão aos padrões de qualidade relacionados com os diferentes tópicos da administração acadêmica.
MISSÃO INSTITUCIONAL
Promover a valorização, difusão e inclusão social do patrimônio arqueológico da bacia do rio Paranapanema por meio da pesquisa, ensino e extensão universitária.
OBJETIVOS INSTITUCIONAIS
a] Produzir e difundir conhecimentos e acervos arqueológicos relacionados com os sistemas regionais de povoamento da bacia do rio Paranapanema.
b] Colaborar com o poder público municipal distribuído pelos municípios da bacia do rio Paranapanema, nos assuntos relacionados com o patrimônio arqueológico.
c] Colaborar com os órgãos de preservação patrimonial e ambiental atuantes na bacia do rio Paranapanema.
d] Promover o intercâmbio científico e cultural com outros órgãos acadêmicos e de pesquisa atuantes na bacia do rio Paranapanema.
ESTRATÉGIA
Os instrumentos operacionais que permitem ao CENTRO REGIONAL cumprir a sua missão e objetivos institucionais estão organizados de acordo com os seguintes eixos programáticos:
1º — Consolidação institucional
* Organização da estrutura orgânica, da peça orçamentária e inserção no Regimento e Organograma do MAE.
* Ampliação e reorganização do quadro de servidores técnicos.
2º — Consolidação espacial
* Concepção, planejamento e execução de obras complementares no espaço físico, reservando a edificação de época (atual) para as atividades de extroversão.
3º — Fomento à pesquisa
* Consolidação do ciclo completo do processo curatorial, do campo à extroversão:
— formação e desenvolvimento de coleções representativas da arqueologia regional, considerados os perfis dos projetos de arqueologia propostos para a bacia do rio Paranapanema;
— conservação das coleções, que inclui soluções de armazenamento e de restauração, quando for o caso;
— estudo, documentação e circulação dos conhecimentos produzidos para fins científicos e de formação profissional;
— comunicação (expografia de coleções arqueológicas).
4º — Ensino e educação para o patrimônio
* Cursos extra-curriculares; apoio à preleção de disciplinas de graduação e de pós-graduação
* Ações educacionais ligadas à exposição e às práticas de arqueologia.
5º — Relações institucionais
Considerada orientação geral da Universidade de São Paulo e do MAE, requalificação das relações:
— Com o Município de Piraju, abrangendo: o estímulo à participação de instituições e órgãos de ensino nas ações e processos educacionais, a inserção da visitação pública às exposições do CENTRO REGIONAL nos projetos de turismo fomentados pelo município.
— Com a administração direta e órgãos e conselhos municipais de meio ambiente e patrimônio cultural dos demais municípios da bacia, especialmente Iepê e Itapeva, outros pólos regionais de arqueologia.
— Com o IPHAN, Condephaat e Ministério Público (Federal e Estadual).
— Com a UNESP – Campus de Presidente Prudente, que mantém núcleo de arqueologia no seu próprio campus, nascido da orientação e cooperação da equipe do PROJETO PARANAPANEMA.
[organização J.L.Morais, 2006]
Equipe permanente do PROJETO PARANAPANEMA atuando em projetos do CENTRO REGIONAL DE ARQUEOLOGIA AMBIENTAL MÁRIO NEME - USP/PIRAJÚ
JOSÉ LUIZ DE MORAIS (coordenador geral), NEIDE BARROCÁ FACCIO (coordenadora regional para o baixo Paranapanema - Iepê), SILVIO ALBERTO CAMARGO ARAÚJO (coordenador regional para o alto Paranapanema - Itapeva), DAISY DE MORAIS (arqueologia da arquitetura; patrimônio arquitetônico e urbanístico), JOÃO CARLOS ALVES (arqueologia-de-campo e curadoria técnica do acervo), SILVIA CRISTINA PIEDADE (arqueologia, curadoria de restos esqueletais); MANOEL MATEUS BUENO GONZALEZ (arqueologia, zooarqueologia), MARISA COUTINHO AFONSO (arqueologia, arqueometria); MARIA CRISTINA OLIVEIRA BRUNO (museologia); SANDRA MEDINA e ADILSON MENDES (apoio administrativo); AMAURI PAGNOSE e MAURO RUBENS DA SILVA (informática); DÁRIA ELÂNIA F. BARRETO e JOSÉ PAULO JACOB (laboratórios de arqueologia); CAMILO DE MELLO VASCONCELOS e JUDITH MADER ELAZARI (educação para o patrimônio); alunos de graduação e de pós-graduação; consultorias especializadas.
Equipe de projeto e obras da Casa da USP em Piraju
Coordenação geral: JOSÉ LUIZ DE MORAIS
Projeto de arquitetura: DAISY DE MORAIS
Colaboração: FILIPE DE MORAIS
Estagiária: CRISTINA RIBEIRO LEMBO
Supervisão de obras: JOÃO CARLOS ALVES
Execução das obras: FUNCIONÁRIOS DA PREFEITURA DE PIRAJU
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